sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sobre a universidade... Aprendizado em ebulição!

     Minha saga de estudos continua à todo vapor ... mais um ano concluído. O ano letivo por aqui se inicia em setembro e termina em maio. Quando embarquei nesse desafio de recomeçar a facudade não tinha nem idéia do que a vida me reservava e esperava só começar em tempo integral pra cair em tempo parcial o mais rapido possível...Mas a vida se mostra uma caixinha de surpresas e acabei terminando o meu primeiro ano completo, 11 cursos ao todo, em tempo integral.


     Como se passa os cursos na Universidade de Sherbrooke? São cursos independentes e dados ao mesmo tempo (diferente da Universidade de Montréal), alguns com leituras só em inglês e provas em francês, alguns são presenciais e magitrais, alguns são por método de aprendizadem por problemas (tipo não existe aula com professor, mas sim encontros de grupo onde se discute dez quilometros de matéria que vc estuda autonomo em casa e tem um monitor pra tirar só as dúvidas). Bom... digamos que foi ultra intenso. Cada curso demanda muita energia, com muita leitura de base em inglês, relatórios em francês, uma enxurrada de trabalho de équipe, apresentações orais, teatro e filmagens diante da turma. Isso tudo demanda disciplina e concentração à nivel master e uma capacidade de abertura à novas experiencias. E digamos que existe uma vida paralela à vida de estudos que se entremeia e fica bem dificil conciliar com tranquilidade e calma tudo. Gerenciar o caos em alguns momentos, antes de "pêter la cloche" (explodir e se lascar rsrsrs) ou mesmo depois rsrsrs, é um desafio.
      Alguns dos cursos: 

  • Biologia: todos os livros e artigos são em inglês, o formato é aprendizado por problemas, só se fala com o professor se for com rdv (rendez-vous) marcado com antecedencia... Os grupos são escolhidos pelo professor e se vc quiser mudar tem que apresentar um booom motivo, pois o objetivo é permitir também a gestão e resoluçao de problemas pelo proprio grupo. Existe uma parte da nota de cada membro que é dada pelos outros membros. É necessário um comprometimento enorme com a équipe e uma paciencia de monge pra lidar com as diferentes opiniões, o tempo limitado e a necessidade de ser objetivo e claro pra ter um bom rendimento. As leituras dos casos clínicos são feitas na semana anterior aos encontros, precisamos construir esquemas de estudo segundo o software CMAP (que eu não conhecia e tive que me virar pra aprender) onde se deve resumir a matéria estudada em forma de algoritimo. Discutimos e construimos um algoritimo em comum em grupo durante uma hora, depois vem um monitor que fica respondendo nossas dúvidas durante outra uma hora e depois já lemos a situação clínica a ser estudada pra proxima semana... ou seja, se vc não tiver com a matéria em dia vc literalmente se lasca "de com força"... o monitor só responde dúvidas, que se vc não tiver se preparado, simplesmente não vai haver perguntas consistentes e vc vai boiar! Método radical, mas que traz muito aprendizado....affff mas ainda assim prefiro o conforto do tradicional, onde eu me sinto mais à vontade com a gestão do meu tempo de estudo. Isso aí é pressão demais, faca na caveira rsrs. Em semana de provas pra outros cursos , vc literalmente enloquece pra conciliar tudo... Os estudos que me despertaram mais interesse em Biologia foram os módulos de cardiologia, do estudo da dor e da depressão.... eu me perco no fascínio de tanto conteúdo ainda novo pra mim. Relacionar o mecanismo de ação e o funcionamento dos detalhes da máquina humana, das células, dos neurotransmissores, das glandulas endócrinas, do coração.... me mostra a beleza da conjução material e me faz ter cada vez mais certeza que existe um comando muito maior na regência dessa bela orquestra do nosso organismo. Essa sensação alimenta minha vontade de progredir.

  • Filosofia do cuidado: foi uma boa surpresa e foi uma delícia estudar isso com nossa professora maravilhosa. Estudar as escolas que orientam a pratica de enfermagem e se identificar com o percurso escolhido é gostoso... ahhhh como é linda a téoria rsrsrs (soa até ingênua) sei que a prática é bem diferente, mas acredito que devemos construir a nossa identificação pessoal e profissional pra atingirmos uma realização mais plena. As pessoas em geral acham que isso é só "pelletage de nuages" (coletar nuvens com uma pá, "enchimento de linguiça"), falar de tudo e do nada e não chegar a nenhum lugar... mas pra mim faz sentido, e é isso que importa.
  • Abordagem familiar (Approche Familliale): aprendi diversas técnicas de abordagem ao paciente e à familia que sentia ainda muita falta no desempenho do meu trabalho. Fazer o outro falar, mas não só falar por falar, mas falar do medo oculto, daquilo que ele quer esconder dos outros e de si mesmo refletir seu comportamento, escutar com paciência e poder fazer a diferença na caminhada de alguém. Ainda me sinto muito distante do "fazer a diferença", mas estou descobrindo o caminho aos poucos. Fortaleci a noção da importancia e da influência do auto-conhecimento para o desenvolvimento da relação de ajuda. Antes de poder ajudar alguém, tenho que ter a consciência do meu "eu" e da influência do outro sobre mim. Autoobservação...Vi que existem diversos campos de trabalho e de conhecimento que posso desenvolver com o tempo pra poder me sentir um agente de transformação na vida de pessoas. E já passei a utilisar e integrar naturalmente essas técnicas no meu dia-a-dia com meu ciclo social.... aí vejo nítidamente a influência da lingua e da cultura no meu poder de intervenção de ajuda. Mas é assim mesmo, um passo depois do outro (Piano, piano...), com a certeza que a estrada é longa mas gratificante. Compreender as entrelinhas do pensamento e do comportamento alheio é um desafio, imagine quando isso acontece com uma cultura e uma lingua diferente da sua... Nesse curso desenvolvemos ateliers de situações clínicas onde temos que fazer representação teatral, construir um portfolio de aprendizagens, realizar entrevista gravada com uma familia em situação real de processo de transição ou de doença e construir em équipe um filme de 15 minutos sobre uma relação de ajuda adequada. 
  • Ética do cuidado: aí vejo a importancia do desenvolvimento da base profissional. O conhecimento dos limites dos comportamentos e da influência das decisões dos profissionais de saúde reflete a construção da idoneidade moral e profissional das pessoas que escolheram essa área de saúde como campo de trabalho. Quando me lembro da minha cadeira de ética que tive na faculdade no Brasil ... quanta diferença! Me desculpe meu professor que podia ter as melhores intenções, mas tinhamos discussões superficiais sem tanto apoio científico, slides vazios da minha compreensão que não faziam conexão franca com a téoria e a realidade. Talvez tb fosse a minha maturidade... No "replay" desse curso, agora onze anos depois, posso ver a diferença de conteúdo, de ensino e de debates entre alunos..... E ver o destrambelhamento da falta de ética na odontologia brasileira (e em várias outras coisas mais...).

terça-feira, 6 de maio de 2014

Afinando as cordas mentais

     Ventos da primavera me fizeram retornar aqui... Adoro essa época de renovação da vida, de limpeza astral e matérial e de renascimento das buscas e dos sonhos. A primavera me faz acordar na alma sentimentos bons, tirar a poeira e ganhar coragem de prosseguir planos ... como a natureza pode influenciar tão fortemente o nosso viver e o nosso olhar diante de tudo. 


     Pra começar...queria agradecer infinitamente por todos os pensamentos, vibrações e demonstrações de carinho que recebi depois dos últimos furacões que passaram na minha vida. Senti as gotas de luz das palavras, do olhar, da mão no ombro e principalmente das preces direcionadas a nós. A cada dia fico mais impressionada com o poder da comunicação mental e da prece em nossas vidas. Vivenciar a perda e o luto não é fácil e demanda muita positividade e proatividade. Queria muito ter retornado à escrever antes, tanto pra demonstrar minha gratidão quanto pra aliviar meu espírito, mas....só conseguir sair do meu turbilhão à pouco tempo...e aí só agora posso por em letras uma parte do meu universo mental dos últimos tempos.

     Fevereiro chegou com seu peso branco do inverno forte, com meu coração em frangalhos e meu cérebro à mil com as provas de meio de sessão... foi mês de médicos e mês de eu ser a "paciente"... consultas e acompanhamentos semanais, choro frequente, maxilares e ombros tensos, luta interna de conexão entre razão e emoção, gestão de tempo e sono... uufff o peso tava dificil de carregar...acabei deixando minha yoga de lado e sem exercicio físico meu stress "pipoca". E ainda fui convocada pra tirar minhas digitais pra prosseguir o processo de cidadania... Parecia que o universo conspirava contra mim ( mas isso foi só um pensamento inútil no momento de desconsolo...).

     Procurei ajuda profissional e fiz acompanhamento psicológico durante todo o mês de março... e aos poucos, tudo foi decantando e entrando mais em ordem ... fui afinando as cordas de ligação entre o cérebro e o coração. Consegui começar a fazer uma investigação médica sobre os abortos (e mais exames, mais questionamentos, testes généticos , mais espera...). Reflexões internas, aceitações, aprendizados ... e enquanto isso, minhas atividades na faculdade à mil... (talvez mereça um post sobre minha visão da universidade...)

      Bom, abril chegou com uma infinidade de trabalhos em equipe e todas as provas finais, com a chegada de Lilian e Rodrigo (mais primos imigrando!!!), com o aniversário do Anércio, com entrevista no trabalho dele e finalmente sua promoção! e ainda com a decisão de mudar de departamento no trabalho (outro post!). Parecia impossível conciliar tudo!!! Essa intensidade de vivências me fez sentir frequentemente vontade de escrever, não cabia em mim mais tanta coisa acumulada .... mas o meu tempo estava cronometrado! Não podia dar expansão ao meu pensar e isso me faz me sentir bloqueada... As ultimas semanas foram de noites mal dormidas com sonhos loucos invadidos pela matéria estudada na noite anterior, com auxílio constante de relaxantes musculares ... cansada, exausta. Segundo minha psicóloga, alto risco de burn-out... Daqui a duas semanas termino meu ultimo curso da sessão de inverno (já terminei 5! graças...)


     O que fazer diante do meu turbilhão? Aprendendo a dominar as emoções, modelando minha personalidade com "hardiness" (transformando problemas em desafios e oportunidades de crescimento), fortalecendo minha fé e confiança na providencia divina. Ainda longe do equilibrio, mas com mais consciencia do meu pensar e do meu agir. Em construção...
          Ahhhh... e mais uma etapa se aproxima: prova da cidadania!    
E em tudo dai graças...